Enquanto isso, de acordo com dados do Ministério da Economia, mais de 700 servidores públicos que atuam no setor de meio ambiente foram dispensados ou demitidos de seus cargos desde 2018. No ano passado, o desmatamento na Amazônia do Brasil foi o maior em 15 anos.
Mas na semana passada, o líder de extrema-direita pareceu assinar a inversão de marcha, assinando um decreto ambiental impondo multas mais altas por desmatamento, extração ilegal de madeira, queimadas, pesca e caça furtiva.
Impõe multas mais altas aos reincidentes e altera as regras para julgamentos de “reconciliação” entre infratores e organizações ambientais, estabelecendo um prazo para que um infrator se envolva no processo antes de prosseguir com uma investigação judicial.
O governo comemorou a iniciativa em comunicado, chamando-a de “um passo importante na legislação ambiental” e “a base para garantir que o Brasil cumpra as promessas feitas no país e no exterior”.
Mas alguns especialistas estão céticos em relação à medida – apontando que essas mudanças práticas podem ser outra maneira de a comunidade internacional se orgulhar de que Bolzano esteja dando passos positivos antes de sua campanha de reeleição para as eleições presidenciais de outubro de 2022.
Rowney Rajao, professor de estudos sociais da Universidade Federal de Minas Gerais, disse à CNN que, apesar de suas conquistas, o governo está tentando se renomear como ecologicamente correto.
“Mesmo que os conservadores percebam que a questão ambiental é importante, o governo está convencendo eles (eleitores conservadores) de que o Brasil está fazendo um ótimo trabalho na região”, disse Rajao.
Os críticos das políticas de Bolsanaro são vistos como “patrióticos” pelo governo, dizendo que “as críticas internacionais visam sufocar o desenvolvimento do país”.
O Ministério do Meio Ambiente do Brasil disse à CNN que foi “um avanço ético na luta contra práticas ambientais ilegais”. A ordem enfatizou que as multas aumentariam significativamente e que as investigações de reconciliação ambiental ajudariam a garantir “maior eficiência” na cobrança.
Desde 2019, Bolzano defende a prática de investigações de reconciliação para agilizar o bom processo. Antes da nova ordem, o órgão ambiental terá que esperar para saber do infrator se ele quer levar o caso à Justiça – ou se concorda em pagar a multa, quer fazer uma investigação. Esse processo pode levar meses – ou até mais, e criar um grande revés. Agora, os autores têm até 20 dias para tomar uma decisão, caso contrário, o processo judicial será realizado sem um inquérito conciliatório.
Mas os ambientalistas dizem que nunca deve haver um desejo de reconciliação. Especialistas acreditam que ele foi criado pelo governo Bolsanaro para dar voz aos criminosos e retardar o processo judicial.
Raul Valle, diretor do Programa de Justiça Social e Ambiental do WWF-Brasil, disse em comunicado que as investigações atingiram o oposto do objetivo proposto – em vez disso, o processo foi paralisado. Ele observou que um grande número de casos estava pendente devido ao processo de reconciliação.
“Aumenta a sensação de impunidade na Amazônia, o que estimula o desmatamento”, disse.
De outubro de 2019 a maio de 2021, quase todos (98%) dos 1.154 autos de infração ambientais emitidos na Amazônia por organizações ambientais brasileiras ainda não foram resolvidos, segundo a Climate Policy Initiative e o WWF, citando dados do governo federal.
Enquanto isso, o documento interno do órgão ambiental do governo, o Ibama, mostra que mais de 37.000 multas por violação ambiental recebidas por jornalistas de dados da organização independente de dados públicos Fiquem Sabendo expirarão até 2024, das quais 5.000 expirarão. Até o fim do ano.
“Com o passar do tempo, os infratores percebem um risco menor de punição, então vale a pena continuar usando os recursos ambientais sem autorização”, diz o documento do Ibama.
E, de fato, menos multas são aplicadas em geral, disse Anne Ames, diretora científica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
De 2018 – ano em que Bolsanaro foi eleito – até 2021, o número de multas aplicadas pelo ambientalista brasileiro Ibama caiu 40% – de 4.253 para 2.534.
“Talvez eles estejam tentando mostrar algo no exterior, mas o que vemos no terreno é o oposto”, disse Ames sobre o pedido. Espera-se que Bolsanaro se encontre com o presidente dos EUA, Joe Biden, para suas primeiras conversas formais na cúpula dos EUA em Los Angeles neste mês.
Ele disse que o governo deve seguir um caminho diferente se quiser levar o crime ambiental a sério, chamando a ordem de “casa”.
“Não basta definir um mecanismo de (re)compromisso ou um prazo para a imposição de multas mais altas”, disse.
Em vez disso, requer “um aumento nas atividades de controle de comando no terreno, fortalecimento dos ecossistemas e apoio de agências estatais”.
Houve algum progresso positivo no setor desde junho passado, quando as agências ambientais estavam subfinanciadas e as agências ambientais recuperavam lentamente sua independência sob a liderança do recém-nomeado Ministro do Meio Ambiente, Joachim Leid.
Mas Bolzano parece estar trabalhando contra tais iniciativas, pelo menos em sua retórica entre os apoiadores.
Falando em um evento do agronegócio em janeiro, há alguns meses, Bolzano criticou as penalidades ambientais – elogiando sua redução.
“Já travamos grandes problemas com o meio ambiente, principalmente no que diz respeito a multa(s). Deveria ser? Sim. Mas conversamos e reduzimos as multas no setor em mais de 80%”, disse.
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