Os veículos elétricos estão liderando o caminho na descarbonização da indústria automobilística global, mas o Brasil está defendendo fortemente o bioetanol. Alguns dos maiores nomes do ramo estão aderindo.
“Abasteci com etanol”, diz um motorista com quem conversamos em um posto de gasolina em São Paulo no início de outubro. “Eu adoro porque é derivado de plantas, ecológico e fácil de guardar.”
O Brasil tem campos da commodity em todos os lugares – combustível derivado da cana-de-açúcar.
Além do mais, este ingrediente possui excelentes credenciais verdes. Os carros movidos a bioetanol emitem dióxido de carbono, que é então absorvido pela cana-de-açúcar que o recebe.
Muito mais barato que o gás
A partir de 5 de outubro, um litro de gasolina no Brasil custava 6,3 reais, ou cerca de US$ 1,25. Mas o bioetanol custa cerca de 40% menos, pouco mais de 75 centavos.
O Brasil fez sua primeira incursão no bioetanol durante a crise do petróleo da década de 1970. O país dependia fortemente de combustíveis importados e cambaleava sob o peso do aumento dos preços.
Em meados da década, o governo lançou uma campanha “pró-álcool” com o objetivo de aumentar a produção de fontes energéticas nacionais. Mas no final dos anos 90, a situação mudou quando uma grande quantidade de campos de petróleo foi descoberta na costa do país.
O bioetanol aparentemente teve o seu dia, mas em 2003 começou um renascimento com os chamados carros flex. Estes veículos funcionam com gasolina e bioetanol ou uma mistura de ambos.
Desde então a procura aumentou. Atualmente, os veículos movidos exclusivamente a gasolina representam apenas 2% do mercado brasileiro. A participação dos carros flex é de 77%.
Gigantes automobilísticos migraram para o mercado
Esses números não passam despercebidos por algumas das maiores montadoras do mundo.
Em março de 2023, a Stellandis, empresa europeia proprietária de marcas como Fiat e Peugeot, anunciou planos para uma estratégia de bioetanol no Brasil.
Em julho, a alemã Volkswagen deu continuidade ao plano de investir cerca de um bilhão de dólares até 2026 para desenvolver novos modelos Flex para o mercado sul-americano.
Os grandes rebatedores do Japão também estão interessados.
A Honda Motor fabrica atualmente três carros Flex no Brasil. A empresa introduziu pela primeira vez a tecnologia de biocombustível em seus modelos Civic e Fit no país em 2006.
Desde 2019, a japonesa Toyota Motor produz o veículo “Flex Hybrid” em uma fábrica perto de São Paulo. As vendas aumentaram cinco vezes nos quatro anos desde o lançamento do carro, e a empresa planeja adicionar outro modelo no próximo ano.
“Introduzimos um sistema híbrido que melhora a eficiência de combustível em 30 a 40 por cento, e os clientes brasileiros o aceitaram além das expectativas”, diz Inoue Masahiro, gerente geral da divisão latino-americana da Toyota.
A fabricante japonesa Nissan também está desenvolvendo um veículo com célula de combustível que gera eletricidade a partir do etanol. As autoridades dizem que o limite de viagens é equivalente ao dos carros movidos a gasolina.
Ricardo Abe, chefe de tecnologia da Nissan no Brasil, está otimista com as perspectivas de expansão. “Todo posto aqui tem etanol”, diz. “Os EUA, a Tailândia e a Índia também são grandes produtores, por isso esta tecnologia tem um enorme potencial global.”
Ambientalistas estão preocupados
Mas alguns grupos ambientalistas estão a levantar questões sobre a sustentabilidade. Eles salientam que a produção de bioetanol consome grandes quantidades de água e descarrega o excesso de fertilizante na terra e no mar.
Temem que o aumento da produção conduza a uma redução da área cultivada com milho e outras culturas, e a um aumento dos preços dos alimentos.
Autoridades do governo brasileiro querem dissipar essas preocupações. O cultivo da cana-de-açúcar representa menos de um por cento da vasta área terrestre do Brasil, dizem eles. Eles também introduziram restrições de zoneamento, incluindo a proibição da floresta amazônica.
O Brasil é uma exceção na mudança global para veículos elétricos, e alguns especialistas dizem que isso se deve ao tamanho do país. Em suma, a instalação de estações de carregamento de veículos elétricos suficientes pode custar uma fortuna – e isso só aumenta o apelo do bioetanol.
“Os biocombustíveis são para o Brasil o que o petróleo é para a Arábia Saudita”, diz Erwin Franieck, presidente da organização sem fins lucrativos SAE4Mobility da indústria de mobilidade. “A produção pode ser triplicada ou quadruplicada em poucos anos, não só para o mercado interno, mas também para exportação”.
Para isso, as sementes já estão sendo plantadas. Na cimeira do G20, em Setembro, o Brasil, os Estados Unidos e a Índia anunciaram uma importante aliança de biocombustíveis envolvendo 19 países. O grupo pretende promover a produção sustentável nos próximos anos.
“Desbravador da internet irritantemente humilde. Fã do Twitter. Nerd da cerveja. Estudioso do bacon. Praticante do café.”
More Stories
Pelo menos 56 pessoas morreram no Brasil devido a fortes chuvas e inundações
Inundações deixam o sul do Brasil de joelhos: milhares de deslocados no estado do Rio Grande do Sul
Próximo CEO da Vale no Brasil quer ficar próximo do governo