São Paulo (AFP) – As camisas de futebol estão por toda parte no Brasil louco por futebol, muitas vezes com os números das lendas de todos os tempos do país: 9 de Ronaldo, 10 de Pelé, 11 de Romário.
Mas um número está fora dos limites: 24, o foco de um tabu homofóbico cuja história de origem é uma louca montanha-russa por mais de um século de história brasileira, terminando com o presente – mas lentamente mudando – atitudes anti-gay que grande importância no futebol hoje.
A história do tabu 24 remonta a 1892, quando o fundador do primeiro zoológico do Brasil, Barão João Batista Viana Drummond, inventou uma maneira criativa de consertar suas finanças problemáticas: uma loteria chamada “o jogo do bicho” (o jogo do bicho). ).
Os visitantes do zoológico do Rio de Janeiro recebiam uma estatueta de animal, e todos os dias a equipe do barão selecionava aleatoriamente um dos 25 animais, com prêmio em dinheiro para todos que possuíssem aquela estatueta.
O jogo logo explodiu, quando empreendedores de raciocínio rápido imprimiram cartões de bingo com os 25 animais e começaram a vender tiros em diferentes jackpots.
O jogo foi proibido três anos depois, mas já havia se tornado uma instituição brasileira – e continua sendo hoje, dirigido por uma máfia ligada a alguns dos maiores negócios do Brasil: política, carnaval, música… e futebol.
O 24º quadrado da carta de jogo é um veado, ou “veado” – uma palavra usada como um insulto homofóbico em português, aparentemente porque os veados são vistos como femininos e às vezes se envolvem em relações homossexuais.
E é por isso que os jogadores masculinos do Brasil temem o número 24.
“É uma loucura quando você pensa sobre isso, porque é apenas um número como qualquer outro. Mas definitivamente há um tabu”, disse Bernardo Gonzales, ativista LGBTI e jogador do time de futsal masculino trans Sport Club T Mosqueteiros, em São Paulo.
Ele disse que alguns brasileiros até evitam 24 anos quando escolhem um lugar no cinema, alugam um apartamento ou completam 24 anos – dizendo que são 23 + 1.
“Os jogadores de futebol preferem usar outro número, porque não querem que ninguém questione sua masculinidade”, disse ele à AFP.
‘Aqui não’
Na primeira divisão masculina brasileira, apenas quatro das 20 equipes atualmente têm a camisa 24. Três são jovens jogadores em seus primeiros contratos profissionais.
“Acho importante que todos os clubes incluam (o número)”, disse um deles, Kevin Malthus, meio-campista de 19 anos do Santos.
“É apenas um número que acabou com esse preconceito homofóbico em torno dele. Mas alguns grandes atletas o usaram, como Kobe Bryant”, disse ele ao site de notícias UOL.
O maior nome do futebol brasileiro a usar o número atualmente é Victor Cantillo, meio-campista internacional colombiano que ingressou no Corinthians, clube de São Paulo, em 2020.
Cantillo causou agitação quando chegou ao Brasil ao decidir manter o número 24, que usava em seu clube anterior, o Junior.
“Não 24, não aqui”, disse o então diretor de futebol do Corinthians, Duilio Monteiro Alves.
O comentário desencadeou uma reação generalizada e uma campanha que viu vários jogadores – incluindo uma das maiores estrelas do Brasil, o atacante do Flamengo Gabigol – usar o número para uma partida.
Mas a polêmica continua.
O grupo de direitos LGBTQ Arco-Íris recentemente levou o Flamengo ao tribunal por excluir o camisa 24 de seu elenco para uma copa sub-20 em São Paulo no mês passado.
Os promotores disseram que seria difícil provar um “motivo discriminatório”, e o caso foi arquivado.
Jogador de outro time do torneio, o ala do América Mineiro Jurandir, vestiu o número 24 – e rendeu cânticos homofóbicos.
‘Símbolo de resistência’
“Apesar de todas as críticas e movimentos sociais, não tem sido suficiente” para erradicar o tabu, disse o sociólogo Rodrigo Monteiro, da Universidade Federal Fluminense.
“O futebol ainda é um espaço muito masculino.”
A polêmica poupou em grande parte a seleção brasileira, já que a maioria dos torneios internacionais permite apenas 23 jogadores e exige números sequenciais.
Mas no ano passado, quando o caos do Covid-19 levou os organizadores da Copa América a permitir equipes de 28 jogadores, o Brasil foi o único país a não registrar o número 24.
A Arco-Iris também levou o caso ao tribunal, chamando a medida de “homofóbica”.
A Confederação Brasileira de Futebol disse que a decisão foi baseada em “considerações esportivas” e o caso foi arquivado.
Por outro lado, o número 24 é usado regularmente no futebol feminino brasileiro e muito popular em times LGBTQ.
“É um símbolo de resistência”, disse Gonzales – ele próprio com o número 24.
© 2022 AFP
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