Como presidente, o “Trump dos Trópicos” afirmou repetidamente, sem provas, que os sistemas de votação no maior país da América Latina são vulneráveis a fraudes. Com uma votação da juíza Carmen Lucia na tarde de sexta-feira, os sete membros do Tribunal Superior Eleitoral chegaram a uma maioria para condenar o populista de direita por abuso de poder para minar a confiança na jovem democracia do país.
Se a decisão sobreviver a um recurso planejado da Suprema Corte, Bolsonaro, 68, não poderá concorrer à presidência até a eleição de 2030, quando completa 75 anos. Esta é a primeira vez em 90 anos de história do tribunal. Aplicou a proibição a um ex-presidente.
Bolsonaro, assessores e aliados estavam antecipando o resultado.
“Pelo amor de Deus, é injusto comigo”, disse ele a repórteres na quinta-feira. “Mostre-me uma coisa concreta que fiz contra a democracia. Joguei dentro dos limites da Constituição o tempo todo.
O ex-militar conquistou a presidência em 2018 com a promessa de erradicar a corrupção no governo. Durante seu mandato de quatro anos, ele removeu proteções para a floresta amazônica e seus povos indígenas, alimentou as facções da guerra cultural do Brasil, presidiu um dos surtos de coronavírus mais mortais do mundo e agora está sendo investigado por corrupção.
Ele deixou o cargo em dezembro depois de perder sua tentativa de reeleição para Luiz Inácio Lula da Silva pela margem mais estreita da história do país. Ele não cedeu a disputa, mas fugiu para a Flórida antes do final de seu mandato, faltando à posse de Lula e à passagem cerimonial do manto presidencial, uma garantia fundamental da democracia do país.
O veredicto desta sexta-feira é o primeiro de vários julgamentos contra Bolsonaro. Continua a ser arguido em vários processos criminais e eleitorais.
O advogado de Bolsonaro, Darcio Vieira de Carvalho, disse que recorrerá ao STF antes da decisão.
Os comentários de Bolsonaro em uma reunião com diplomatas estrangeiros no palácio presidencial no verão passado estavam em questão perante o tribunal. Em um discurso de 45 minutos televisionado nacionalmente, o comitê descobriu, ele fez falsas alegações de manipulação do sistema de votação. Os comentários prepararam o terreno para milhares de seus apoiadores bloquearem o palácio presidencial, o Congresso e a Suprema Corte em 8 de janeiro, em uma tentativa de reverter sua derrota eleitoral.
A denúncia foi apresentada pelo Partido Democrático dos Trabalhadores, de esquerda, do Brasil. A corte eleitoral é chefiada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, a quem os apoiadores de Bolsonaro acusam de assédio político.
Os advogados de Bolsonaro argumentaram que a reunião foi um “ato de governo” com “recomendações para o processo eleitoral”. Bolsonaro não compareceu à audiência, mas comentou à margem.
“Seria justo revogar os direitos políticos de uma pessoa que convocou embaixadores?” O ex-presidente perguntou aos repórteres na segunda-feira. “No Brasil não podemos aceitar passivamente que qualquer crítica ou sugestão para melhorar o sistema eleitoral seja considerada um atentado à democracia.”
Mas o tribunal, formado por um rodízio de três ministros do Supremo Tribunal Federal, dois juízes federais e dois promotores, considerou que os comentários de Bolsonaro a diplomatas faziam parte do roteiro que levou ao levante de 8 de janeiro. Em parecer de 382 páginas, o ministro Benedito Gonçalves escreveu que o ex-presidente foi “total e pessoalmente responsável” por atacar o sistema eleitoral e “violou seus deveres de presidente” durante a reunião.
“Não podemos fechar os olhos às consequências antidemocráticas de discursos violentos e mentiras que podem minar a credibilidade do sistema eleitoral”, escreveu Gonçalves.
Os ministros do Supremo Tribunal concordam.
“Nunca tivemos um presidente que atacou as instituições de forma tão inequívoca quanto Bolsonaro”, disse o juiz Gilmer Mendes. O presidente de dois mandatos do tribunal eleitoral disse ao Washington Post.
“E havia um ambiente”, continuou Mendes. “Se ele se reunir com embaixadores e diplomatas em seu escritório e descobrir que as cédulas eletrônicas são falhas, ele está abusando seriamente de seu poder como presidente.”
Segundo o jornal O Globo, autoridades judiciais alertaram Bolsonaro pelo menos 31 vezes entre julho de 2021 e agosto de 2022 que ele poderia ser punido por atacar o sistema eleitoral.
O principal procurador do Brasil para casos eleitorais, Paulo Gustavo Conet Franco, disse no início do julgamento que a retórica do ex-presidente “além da liberdade de expressão”.
“As acusações de Bolsonaro não são apenas imprudentes; elas são conhecidas por serem infundadas”, disse ele.
Ninguém no Brasil mostrou capacidade de energizar a direita de Bolsonaro. Mas seus aliados já estão procurando por seu substituto. Eles esperam que retratar o ex-presidente como vítima de um sistema corrupto fortaleça sua causa. Apoiadores dizem que sua esposa, Michelle Bolsonaro, é candidata a sucedê-lo.
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