Por Marcela Ayers
BRASÍLIA (Reuters) – Uma nova concorrência aguarda no lucrativo mercado de vale-alimentação do Brasil, com pessoas familiarizadas com as discussões entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central discordando sobre como regulamentar um novo sistema que planeja introduzir em maio. Uma lei aprovada em setembro pelo ex-presidente Jair Bolsonaro permite que os trabalhadores transfiram seu crédito de refeição entre fornecedores e gastem-no em qualquer restaurante participante. Mas sob o novo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os esforços do governo para regulamentar um sistema tão “portátil” e “interoperável” estagnaram. As empresas de tecnologia, incluindo a empresa de serviços financeiros Mercado Libre e a empresa de entrega de alimentos iFood, esperam que as regras permitam a coleta. Um punhado de empresas domina o mercado de quase 150 bilhões de reais (US$ 29 bilhões). Opções mais competitivas para dezenas de milhares de brasileiros gastarem seus vales-refeição fornecidos pelo empregador podem reduzir as margens de lucro da Ticket, subsidiária da Sodexo e da Edenred. A Sodexo obteve 26% de sua receita operacional do Brasil no ano passado e a Edenred 22%, de acordo com informações para investidores. O ministério das finanças diz que o banco central tem jurisdição para regular os sistemas de pagamento, mas fontes disseram que o banco central resistiu às propostas iniciais de sacudir o mercado e tentou manter suas mãos fora do setor.
A equipe do banco acredita que o mercado de vouchers não apresenta nenhum risco sistemático. O banco disse que a mudança para créditos em vouchers pode prejudicar a concorrência e criar novas barreiras à entrada, exigindo investimentos substanciais nas operações.
Uma terceira fonte disse que o banco central sinalizou falta de pessoal e recursos para novos trabalhos regulatórios, com greves interrompendo a agência no ano passado que atrasaram a divulgação de dados econômicos e projetos de alta prioridade. A postura aumentou as já altas tensões entre o Ministério das Finanças e o banco central, disseram as fontes sob condição de anonimato. Ambas as empresas têm negociado em políticas fiscais e monetárias.
O banco central se recusou a comentar sobre sua suposta oposição à regulamentação do mercado. O Ministério das Finanças não respondeu às perguntas sobre o assunto.
incentivos fiscais
Desde 1976, as empresas brasileiras recebem incentivos fiscais para cobrir o custo da alimentação de seus trabalhadores. O resultado é um amplo sistema de vale-refeição dominado pela Sodexo e Edenred, juntamente com as rivais privadas Alelo e VR, que também administram outros benefícios aos funcionários.
Em 2021, Bolsonaro buscou abrir o mercado com mandato para reduzir os benefícios atuais. O Congresso apoiou sua proposta com uma lei em setembro, e o Departamento do Trabalho criou uma força-tarefa em dezembro para emitir regulamentos.
Mas o Ministério do Trabalho de Lula dissolveu a força-tarefa depois que ele assumiu o cargo em janeiro. O ministério disse à Reuters que tais restrições estavam “além de sua competência” e deveriam ser tratadas pelo ministério das finanças e pelo banco central.
João Sabino, diretor de políticas públicas do iFood, disse que a falta de consultas públicas ou ação do governo é “preocupante”. A portabilidade dos créditos em voucher, que começará em maio nos termos da lei, exige regulamentação detalhada para a criação de uma câmara de compensação. O prazo agora é irrealista, disse ele.
“Essa abertura de mercado só funcionará se a portabilidade for estabelecida”, disse Fernanda Loranja, gerente sênior de políticas públicas do Mercado Pago, uma divisão do Mercado Livre. “Caso contrário… as empresas com 85% a 90% do mercado continuarão a dominar.”
Os benefícios atuais permitem que os principais players cobrem restaurantes que aceitam seus cartões de refeição em torno de 7% em taxas de transação, em comparação com uma média de 2% para cartões de crédito e menos de 1% para cartões de débito.
Sodexo, Edenred, Alelo e VR se recusaram a comentar, encaminhando as questões à Associação Brasileira das Empresas Beneficentes do Trabalhador (ABBT).
O presidente da ABBT, Alaor Aguirre, disse ser “absolutamente impossível e inviável” que o setor cumpra o prazo estabelecido na lei de 2022.
A ABTT suporta uma única rede “operável” para todos os jogadores autorizados, mas a integração técnica necessária ainda não começou.
Aguirre disse que a pressão por um sistema menor que permitisse aos trabalhadores movimentar seus créditos entre fornecedores foi um “grande erro” e convidar novos entrantes sem qualquer preocupação com a qualidade nutricional ou com a expansão da rede de restaurantes credenciados.
(Reportagem de Marcela Ayers; Edição de Brad Haynes e David Gregorio)
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